A maioria das pessoas que conheço são
religiosas de alguma forma.
Eu entendo que a maioria dos
religiosos atuais não é fundamentalista. Ou seja, a maioria segue uma religião
simplesmente porque entendem que ela lhes traz alguma paz, na medida em que
traz respostas para os maiores medos humanos: a morte e a vida (sim, a infeliz
base biológica do ser humano é o medo, não só da morte, mas da vida também).
Quanto à morte, sua religião conforta, dizendo que ela não é o fim. Quanto à vida,
sua religião conforta, dizendo que tudo de errado que acontece, está nos planos
do seu deus e, portanto, você não precisa se preocupar.
Eu entendo tudo isso.
A interpretação contemporânea da bíblia
(tomo ela como exemplo porque, no meio acidental, é a mais conhecida), permite
conviver com a evolução social e científica do feminismo, do darwinismo, da
liberdade de gênero. A maioria das pessoas religiosas, hoje, adapta o que está
escrito para conseguir continuar seguindo este livro, ainda nos dias atuais.
MAS, o livro continua sendo o mesmo e
eu costumo fazer o seguinte exercício mental:
Se um dia, o seu filho decidir que a
bíblia deve ser lida na exata forma como ela foi escrita, pois a palavra de
deus não comporta interpretação, você poderá se opor a isso?
Você, que tenta manter a adoração a
este livro, de forma mais razoável, mais atual, sem “levantar a espada” contra
quem pensa diferente, poderá repreender seu filho se ele decidir que a palavra
de deus manda tocar fogo no primo que namorou a filha e a sogra (Levítico
20:14)? Ou poderá você repreender seu filho se ele matar o amiguinho
homossexual, simplesmente porque deus mandou (Levítico 20:13) (Para não ficar
só no Velho Testamento - Romanos 1:32)? CALMA, eu sei que você não faz nada
disso porque “não é bem assim” e sua interpretação da bíblia é atual... MAS, se
seu filho ou mesmo seu vizinho decidir que a bíblia deve ser seguida à risca,
como já foi em outras épocas e como ainda é por outras pessoas, poderá você
repreendê-lo?
É por isso, meus amigos, que não os
recrimino na sua religiosidade atualizada, mas continuo me preocupando com a
disseminação dessa base religiosa que, na sua essência, sem modificações interpretativas
convenientes, sempre foi e continua
sendo misógina, separatista, violenta...
O mundo atual não pode ficar à mercê
das interpretações brandas dos textos religiosos, quando eles são, à toda
evidência, contrários à civilização igualitária em direitos que construímos (e
ainda tentamos construir). Por isso, meus amigos, embora eu agradeça a sua
interpretação branda do seu texto religioso, não posso fechar os olhos ao
perigo que ele oferece, caso resolvam interpretá-lo literalmente de novo.