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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

KUBRICK E EU!


Descobrir que Stanley Kubrik pensava EXATAMENTE igual a você – NÃO TEM PREÇO! rs


“O conceito de Deus está no centro de 2001 – mas não qualquer imagem antropomórfica de Deus. Não creio em nenhuma religião monoteísta da Terra mas acredito que se pode construir uma definição científica de Deus.”

“Quando pensamos nos gigantescos avanços tecnológicos que o homem efetuou em poucos milênios – menos de um microssegundo na cronologia do Universo – não podemos imaginar a evolução que essas formas de vida muito mais antigas alcançaram. Elas podem ter progredido de espécies biológicas que são frágeis conchas para a inteligência, a imortais entidades e então, após inúmeras eras, podem ter emergido da crisálida de matéria, transformadas em seres de pura energia e espírito. Suas potencialidades seriam ilimitadas e sua inteligência inatingível pelos humanos. Tudo isso tem relação com o conceito de Deus em 2001. Porque esses seres hão de ser deuses para bilhões de raças menos avançadas no universo”

FONTE: Rubens Ewald Filho e entrevista de Kubrick à "Playboy" in http://textosparareflexao.blogspot.com/2009/05/2001-kubrick-e-o-monolito.html

domingo, 30 de setembro de 2012

Minhas impressões sobre Francis Collins em "A linguagem de Deus"


Por indicação de uma amiga crente (no sentido de "quem acredita"), li esse livro.

Collins é biólogo e foi o diretor da fase final do projeto genoma. Escreveu esse livro na tentativa de justificar sua fé num Deus interventor/criador e a ciência na qual também acredita.
Aprecio a tentativa de um cientista de harmonizar a sua fé religiosa com a racionalidade de seu trabalho. Mas, não acho que sua tentativa foi bem sucedida. Há partes do livro que me causam admiração, pela sinceridade com que Collins tratou o triunfo da ciência em relação à religião, mas outras partes não me convencem da harmonia entre o deus bíblico e a ciência...
Para quem interessar, segue meu estudo sobre o livro:
Preciso cumprimentar o autor quando levanta a questão do “deus das lacunas” no livro. Ele explica que os crentes que enfiam deus em todas as lacunas científicas correm o risco sério de ver sua fé rapidamente deteriorada, com a descoberta cientifica para a tal lacuna. Ele sabiamente diz que a origem da vida e suas lacunas (que aos poucos vão sendo cobertas pela ciência) “não é o lugar para uma pessoa inteligente apostar sua fé” (palmas!)
Como biólogo, ele sabiamente descarta o período cambriano (explosão de diversidade biológica na terra) como um período de interferência divina, pois a ciência e o raciocínio mostram que foi pura evolução. Ele ainda diz que “existem boas evidências das formas de transição de répteis para aves e de répteis para mamíferos”.
É lindo ler o relato dele da busca pelo gene causador da fibrose cística e depois a comemoração em lágrimas quando finalmente conseguiram encontrá-lo (renovando esperanças de uma cura). É digno de apreciação também, a sua honestidade quando diz que ficou em duvida ao ser convidado para assumir o projeto genoma e não “ouviu” a voz de deus quando orou por uma resposta, mas sentiu uma paz ao tomar sua decisão em aceitar. Ele não distorceu fatos e verdades a favor de sua crença.
Aplaudo também a distinção que ele faz sobre a palavra “teoria” da evolução que muitos crentes insistem em definir como “hipótese”, mas na verdade é um conjunto de princípios fundamentais que nada tem de incerto, mas totalmente certo, ou seja, a evolução não é uma “possibilidade”, mas uma certeza. Ao menos isso ele não nega.
E ainda, louvo sua tentativa de fazer os crentes menos científicos, a pararem de negar a evolução, como uma tentativa inútil de proteger a sua crença.
Ele diz a respeito do criacionismo bíblico literal que é “quase incompreensível que essa visão tenha atingido um respaldo tão abrangente, em especial num país como os Estados Unidos (45% acreditam no criacionismo da biblia) que afirmam ser tão intelectualmente avançados”.
Admiro sua honestidade ao descartar o maior trunfo dos criacionistas, o design inteligente e a teoria da complexidade irredutível como teorias plausíveis, pois realmente não passam de tentativas desesperadas de se apegar a lacunas no conhecimento cientifico (que vão sendo preenchidas a cada ano).
Mas, sou obrigada a discordar do autor quando diz que a evolução não contradiz a fé no deus da bíblia... é a mesma prática constante dos crentes que preferem ignorar o deus bélico do velho testamento e se concentrar somente no deus, por vezes, amoroso do novo testamento... dizer que Genesis é alegórico e o resto da bíblia não é, simplesmente joga pra debaixo do tapete a parte que foi desmentida e foca naquela que ainda não foi ou então nunca será, porque depende exclusivamente da mente predisposta a acreditar.

Collins já começa dizendo que “A ciência é incapaz de responder qual o sentido da existência humana”... o fato é que ela responde, mas não é a resposta que queremos ouvir...
Ele diz que “Na posição de um jovem que crescia em um mundo repleto de tentações era confortável não ter que responder a nenhuma autoridade espiritual...” (só posso concluir que o medo trouxe a sua fé de volta... )
O autor sustenta que em todos os povos, desde primitivos, há uma lei moral intrínseca do homem que obriga gentileza com os mais fracos, dar esmola, ser honesto... que a filosofia pós moderna está errada quando diz que não há certo e errado absolutos e que decisões éticas são relativas.  (a base da crença de Collins está no final do texto, mas aqui já indica um princípio adotado por ele para crer em deus – a lei moral intrínseca do homem seria indício de Sua existência)

O autor argumenta que o sentimento de deslumbramento do ser humano ao ouvir uma bela sinfonia ou ler um poema são manifestações divinas e, ainda, que o desejo de que exista um deus são provas de que ele realmente existe. O próprio autor cita a explicação de Freud para isso, a influência paternal que faz com que a criança, mesmo depois de adulta, continue desejando uma figura paterna com quem possa contar. Mas, ele diz que esse argumento é falho porque a criança conforme cresce, experimenta sentimentos de libertação dos pais, o que refletiria num desejo de que deus não existisse. (argumento pobre, porque a revolta da adolescência contra os “desmandos” dos pais não inibe completamente a necessidade genética de proteção paterna, que persiste no DNA – sem a existência dos pais, todo ser humano e animais que, da mesma forma, dependem dos pais para sobreviver nos primeiros anos de vida, não estaria vivo - sentimento este que nunca poderá ser eliminado pela revolta adolescente contra as ordens paternas)
Então ele diz que todo desejo só existe porque pode ser realizado, então o desejo de que deus exista só pode corresponder a uma realização. (argumento, no mínimo, infantil)

E quanto às barbaridades praticadas pela religião, primeiro ele “argumenta” dizendo que também foram praticadas coisas boas (a velha prática de fechar os olhos à parte ruim e só levar em consideração a parte boa, o que obviamente desestrutura qualquer sistema de crença) e depois diz que a religião é falha porque é feita por homens, mas o que se discute, quando se fala nas atrocidades religiosas não são as atitudes dos homens, mas os mandamentos do próprio “deus” contidos na bíblia... em especial no velho testamento que mostra um deus sempre ávido por guerras entre povos e mandando seus súditos exterminarem crianças para que ninguém do povo que “adora outro deus” sobreviva. (atitudes obviamente humanas e escritas como se viessem de um suposto deus que ainda insistem em defender como real)

Sobre a contradição entre um deus bondoso e as pessoas que sofrem pedindo por um milagre que nunca vem, o autor diz que “frequentes intervenções milagrosas seriam caóticas no plano físico”, então devo supor que deus realmente tem seus preferidos e faz os milagres (dentro da cota ‘não caótica’) só para os escolhidos... que provavelmente alguns crentes diriam que são os que o adoram sem questionar... trazendo à baila mais um sentimento absolutamente humano desse deus vaidoso que não admite ser questionado...rs
Nesse ponto que admiro a tentativa dos espíritas de explicar o sofrimento humano à luz da existência de deus... seria parte de um plano divino grandioso para “esculpir” nossas almas através da dor, para que possamos nos tornar seres melhores no futuro (após várias reencarnações de dor). Pelo menos a ideia não se torna absurda a ponto de defender milagres aleatórios ou para “preferidos”... ao menos, nesse contexto, deus estaria agindo de forma coerente e conduzindo um plano de aprimoramento da raça humana...
O autor cita a famosa frase de Stephen Hawking sobre a descoberta de uma eventual teoria final que nos permitiria “entender a mente de deus”, mas todos sabem que quando vários cientistas se referiram a “deus” dessa forma, estavam se referindo a uma eventual constância universal e não a um ser bíblico... sobre a teoria final, indico o livro de Marcelo Gleiser “Criação Imperfeita” que elucida melhor essa questão que as vezes confunde a ciência com a teologia.
O autor fala que “o big bang grita por uma explicação divina” e ele “não consegue ver como a natureza pôde ter-se criado”, mas logo depois, ele mesmo cita como os átomos se juntaram de forma natural até formarem estrelas, planetas e finalmente o homem, então porque antes disso, não poderia ter sido algo natural também? Só porque ele não entende ainda como aconteceu, não significa que não foi natural!
Quanto às questões teológicas extremamente relevantes que surgem quando pensamos na existência de vida extraterrestre (se deus criou outras criaturas, porque seu único filho salvou só a nós dos pecados? As outras criaturas são todas santas?? Se deus as fez santas, para não terem que se preocupar com o pecado vindo do tal “livre arbítrio”, porque não nos fez assim Tb? Etc, etc, etc), o autor faz como todos os crentes fazem, simplesmente passa pelo assunto rapidamente, dizendo que a probabilidade de não encontrarmos vida extraterrestre é grande.

Sobre o principio antrópico (o universo existe da maneira “certa” para que possamos existir) já coloquei um trecho do livro do Gleiser que explica que não há universo certo, apenas observadores tendenciosos (nós). O exemplo do peixe inteligente do Gleiser explica muito. (ver post - NÃO EXISTE UNIVERSO CERTO)
O próprio autor, no final do tópico, diz que na verdade quem quer acreditar em deus escolhe o principio antrópico, mas a sua probabilidade está em pé de igualdade com a teoria dos multiversos, que também explica a suposta predeterminação do universo para a existência a vida, de forma totalmente cientifica e natural.

É desconcertante ver o quanto um cientista cuja predisposição emocional o obriga a acreditar em deus, tenta justificar sua crença em “séculos de história e altruísmo”. Não é porque as pessoas têm acreditado numa mentira há séculos que ela vira verdade. E sobre o altruísmo, ele não leva necessariamente a deus, como diversos autores já discutiram.
Ele escolhe acreditar num tipo de ideia que poderia ser compatível com a existência de um deus interventor, dizendo que o universo surgiu do nada (o que não é verdade, segundo a teoria dos multiversos ou mesmo segundo recentes descobertas do bóson de higgs), que o universo está ajustado para a criação da vida (o que também é refutado brilhantemente por Marcelo Gleiser e pela teoria dos multiversos) e que a evolução seria a maneira que deus escolheu de criar tudo (???)
Concordo que se deus sabe de tudo, embora o processo evolutivo seja aleatório, ele poderia prever todas as interferências para que no final o resultado fosse como desejado, MAS, se sua intenção era criar o homem, não seria mais lógico ter criado logo de uma vez?? Ao invés de fazer milhões de cálculos (se existe esse deus, certamente é matemático!!! RS) para impedir que eventos aleatórios não desejados interferissem no resultado final?
Infelizmente para o autor, essa alternativa não é a mais “consistente em termos científicos”, basta ler sobre as recentes descobertas científicas e as teorias que citei acima.
A verdade é que a ciência aponta para o abandono da noção de deus criador e/ou interventor... se existe algum ser infinitamente superior a nós, ele existe em função de processos naturais de evolução, conforme todas as evidências apontam desde o surgimento o universo até o surgimento do próprio homem. É assim que a natureza funciona e é assim que a eventual existência de um ser superior vai ser possível. Se ele vai intervir na Terra em algum momento ou se interviu no passado (supondo que um ser infinitamente evoluído tenha encontrado formas de viajar no tempo e espaço), certamente não foi para nos aprisionar em conceitos de adoração irracional, mas para tentar impulsionar a humanidade para a mesma evolução que, quem sabe, um dia será também comprovada fora dos padrões físicos.
No final do livro, o autor traz um exemplo de seu suposto amor ágape por doentes na África, que o levou a fazer uma viagem pra salvar vidas (mas, não percebe que no mesmo trecho cita seu verdadeiro impulso egoísta de ser o “salvador branco” que o teria levado até lá).
Não quero desmerecer trabalhos como o que ele fez com os doentes, mas infelizmente isso não justifica a existência de um deus interventor, que teria colocado o amor no nosso coração só para que soubéssemos de sua existência... o amor é um sentimento que geralmente espera algo em troca, mesmo que seja a satisfação pessoal de ser apreciado por seu ato.
O autor ainda cita Lewis, mais uma vez, para dizer que Jesus não foi apenas um grande educador, mas o filho de deus... infelizmente, a citação se esvai por si só... não explica nada. Lewis, na comum fúria cristã, diz que “você pode cuspir nele (Jesus) e matá-lo como se fosse um demônio, ou pode cair a seus pés e chamá-lo de senhor e deus”... não existe a alternativa do meio? Por que ele não poderia ser simplesmente um homem à frente do seu tempo, como tantos outros na história? Simplesmente porque não se quer acreditar nisso.
Acho engraçado como ele defende o livre arbítrio teoricamente dado por deus... Ele diz “imagine esse mundo se a oportunidade de escolher livremente uma crença tivesse sido removida em virtude da certeza das evidências. Que desinteressantes seria, não?”
Ahhh, por favor! Se houvesse apenas uma crença baseada em evidências, não existiriam as guerras religiosas, responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas na historia da humanidade. Se todos pensassem da mesma forma, BASEADOS EM EVIDENCIAS (o que seria ainda melhor, porque garantiria ao menos que esse pensamento estaria correto), não haveria discórdia! E um cientista dizendo que isso seria desinteressante é um argumento triste.
Acho engraçado dizer que deus nos deu o livre arbítrio para acreditarmos no que quisermos, mas se não acreditarmos nele, então seremos punidos... que livre arbítrio é esse?? E se deus é tão superior, sabe o quão “involuídos” espiritualmente nós somos e, só por isso, olharia para nós com compreensão se decidíssemos não acreditar nele e não com sentimento de punição (mais uma vez, essencialmente humano).
Por todos esses motivos, não acredito no deus, essencialmente humano, da bíblia... as histórias lá contadas são fruto da imaginação ou da fraude de homens que precisavam de um argumento de poder para liderar (especialmente no velho testamento -  não se pode simplesmente ignorar aquele deus que agia como humano e dizer que no novo testamento, ele se redimiu e começou a pregar a bondade para com todos, além do povo dele)... se a bíblia fala de um deus só, então é nesse único deus, essencialmente humano, em quem não acredito.
O que os cristão não entendem é que não acreditar no deus da bíblia, não me impede de acreditar no sobrenatural... eu posso acreditar na existência de um ser superior que não seja o deus da bíblia (24horas observando se alguém deixa de acreditar nele, para, então, puní-lo de alguma forma), mas um ser superior ou, em termos evolutivos e mais prováveis, VÁRIOS seres superiores, que eventualmente podem vir a se preocupar conosco, mas não no intuito bíblico, essencialmente humano, de angariar seguidores para satisfazer uma vaidade, essencialmente humana. Seria um ser superior com uma genuína preocupação com um quase semelhante (em termos evolutivos) que eventualmente teria interesse em nos ajudar a passar por essa fase tão primitiva em que nos encontramos (que esse deus já superou há muito tempo)... pra mim esse seria o deus mais lógico para qualquer cientista... uma criatura tão evoluída que para nós, pode ser encarada como “deus”... mas, que está de acordo com a ciência da evolução e com as observações empíricas que fazemos.
Porque não pode haver existência de algum tipo de vida após a morte, mas que continue evoluindo nos mesmos padrões que observamos no mundo físico? Se o bóson de higgs, descoberto recentemente, apresenta uma variante da teoria do surgimento do universo, indicando que ainda antes do big bang, houve uma outra fase de interação da matéria com o imaterial, porque o oposto não pode acontecer quando a nossa matéria morre e talvez ainda continue existindo algum tipo de imatéria que nos caracterize? E que vai continuar seu caminho evolutivo ou não, da mesma forma que a matéria... sem depender da interferência de um poder criador, mas de combinações de circunstâncias e eventos físicos (lembrando que a física teórica também se aplica à “imatéria”). Einstein já dizia que matéria e energia (imatéria) são intercambiáveis.. o que impede de descobrirmos que a matéria vira energia consciente após a morte?
Acho engraçado que quando se fala de deus e religião, a fé não precisa ser provada e não pode ser questionada, mas quando a situação se inverte, os primeiros a exigirem provas são os “crentes”... o autor diz que os milagres são raros, mas para quem acredita num deus interventor, eles existem e para quem não acredita, eles podem ser explicados pelas leis da natureza e então o autor lança a pérola “pode, porém, esse ponto de vista ser totalmente confirmado?”, ou seja, se as leis da natureza não explicam tudo, só pode ser intervenção divina...
Isso só reforça a minha ideia de que a crença num deus interventor (o deus da bíblia) é puramente opcional... se o individuo apresenta uma forte necessidade emocional de ter um pai protetor sempre presente (Freud já explicou isso), então ele vai distorcer todos os fatores a favor dessa crença... mas, isso é mais emocional do que racional e não explica nada... (eu sei que dirão, mais uma vez, que a fé não precisa ser explicada, mas as contradições precisam e essa historia do deus da bíblia tem muitas contradições que não se sustentam a um simples olhar racional... e como eu digo, a lógica não pode ser abandonada a favor da fé, porque os próprios princípios da fé devem ser coerentes entre si, senão vira coisa de louco!)
Mesmo que a ideia que você vai defender seja baseada em fé, os princípios dessa fé não podem se contradizer para ter sentido... a questão é justamente que a lógica não pode ser afastada nem dos que alegam que a fé não precisa de provas... mesmo uma premissa que se afirme por si só (independente de provas) precisa seguir uma coerência lógica com o raciocínio que vier depois (seja qual for) e isso que muitos crentes não entendem. (embora o autor, em muitos trechos do livro tenha buscado essa coerência, rejeitando o criacionismo bíblico literal e outras teorias absurdas que tentam explicar a fé em deus interventor)

O autor ataca o ateísmo porque diz ser “uma posição logicamente indefensável”(!?), mas quase defende o agnosticismo, por ser “compatível com a teoria da evolução e muitos biólogos se colocariam nesse campo”... se o agnosticismo é compatível com a teoria da evolução, porque o cristianismo também seria? O problema é que ele se força a tomar uma posição frente os dados que temos hoje. (o que pode levar a uma conclusão FORÇADA por medo de ficar em cima do muro e vir a ser punido...) preciso discordar do seu comentário quando diz que “é raro ver um agnóstico que se empenhou em avaliar todas as evidências favoráveis e contrárias à existência de deus”...baseado em que ele diz isso??? Essa afirmação circula no campo daquelas que dizem “todo crente é desprovido de lógica”... o que é uma generalização perigosa.
Não acho justo encarar o agnosticismo como covardia. Se uma pessoa não considera suficientes nenhum dos argumentos apresentados, por que deve ser obrigada a escolher algum, ao invés de esperar pelo surgimento de outro melhor? A ciência e a própria filosofia humana progridem a cada dia... quem garante que no futuro não existirá uma explicação melhor e mais aceitável pra mim, do que as que existem hoje? Chamar agnosticismo de covardia é querer incutir na mente do outro as próprias convicções, típico da natureza do ser humano, mas inválido como argumento.
Enfim, a tentativa do Collins de harmonizar seu trabalho científico (de grande valor) à sua crença religiosa é falha, pois os maiores argumentos usados (lei moral do homem, universo vindo do nada e universo “certo” para o homem) já foram longamente refutados por vários pensadores. A verdade é que a crença no deus da bíblia continua sendo uma escolha, que também não resiste a argumentos lógicos e comumente apela para a “fé cega”, que não precisa de provas. O que os crentes não entendem é que todo sistema de crenças (seja ele baseado em fé ou não) deve ter coerência em suas premissas, o que não acontece com a fé no deus da bíblia... não é uma questão de impor a razão à fé, mas de pretender qualquer raciocínio lógico sobre as próprias premissas daquela fé. Os crentes têm dificuldade de entender isso, mas a verdade é que suas premissas são contraditórias por si mesmas... independente da fé ser provada ou não. Gostaria de ver algum crente realmente entendendo esse argumento para que, então, qualquer tentativa de debate pudesse se realizar.

O Universo não é "certo"!


Texto retirado do livro “CRIAÇÃO IMPERFEITA” de Marcelo Gleiser

Inúmeros artigos e livros científicos declaram algo assim: “Os valores das constantes fundamentais da Natureza definem como o Universo opera (verdade). Se fossem ligeiramente diferentes, digamos, se a carga do elétron fosse 20% maior, ou se os  nêutrons não fossem 0,13% mais pesados do que os prótons mas um pouco mais leves, tudo seria diferente. Em particular, estrelas não brilhariam e talvez nem existissem, e a vida seria impossível (verdade). Portanto, se os valores das constantes fundamentais da Natureza diferissem por apenas um pouco, não estaríamos aqui (verdade). Não é incrível como o cosmo é tão ‘certo’ para que a vida exista? (falso)”.
A existência (e os valores) das constantes fundamentais da Natureza reflete o método com que construímos explicações do mundo que nos cerca.
Não existe qualquer evidência de que o nosso Universo seja “certo” para a vida. Ao contrário, evidência que temos aponta na direção oposta, para a raridade da vida, que existe apesar da indiferença e da hostilidade cósmica.
Afirmar que o Universo é “certo” para a vida implica uma agenda bem específica: o Universo é do jeito que é para que possamos estar aqui. Essa posição implica que a vida, e particularmente a vida inteligente, tem uma importância cósmica. Temos uma missão ditada pelo próprio Universo!... Como aceitar que tudo isso seja um mero acidente, que nossa existência não tenha um propósito maior?
Não há dúvida de que essas ideias são inspiradoras....Infelizmente, essas ideias não têm a menor evidência observacional.
Deixe-me elaborar essa questão através de uma analogia. Um dia, uma pessoa entra numa biblioteca. Essa pessoa só sabe ler e escrever em português. Examinando as estantes, se empolga ao descobrir que todos os livros sejam em português. “Não é incrível que todos os livros nessa biblioteca são em português? Se fossem em outras línguas, ou se algumas letras fossem trocadas aqui e ali, digamos, as letras ‘a’ e ‘e’ por caracteres japoneses, eu não poderia mais ler nenhum desses livros. Esta biblioteca é a ‘certa’ para mim, construída só para que eu possa aproveitar todas essas belas obras. Eu devo mesmo ser muito importante!”
... Nessa analogia, a biblioteca representa nosso Universo, com seus observadores (isto é, leitores) inteligentes “típicos”, sejam eles terrestres ou alienígenas.
...
Para um peixe inteligente, a água é “certa” para ele, funcionando como deve para que possa nadar nela. Se fosse muito fria, congelaria; muito quente, ferveria. A temperatura tem que ser “certa” para que o peixe exista. “Veja só como sou importante! A própria água é do jeito que é só para que eu possa nadar nela. Minha existência não pode ser um acaso.”, concluiria o peixe, orgulhoso. Porém, sabemos que a temperatura dos oceanos não está sendo controlada com o propósito de permitir a existência do nosso peixe. Ao contrário, o peixe é extremamente frágil. Uma mudança brusca ou mesmo gradual da temperatura o mataria, como todo pescador de trutas sabe muito bem. Precisamos tanto encontrar conexões que justifiquem nossa existência, que as achamos mesmo quando não existem.
Somos seres espirituais em um cosmo brutal e indiferente. Para mim, essa é a essência da problemática humana. Um dos erros mais graves que podemos cometer é acreditar que o cosmo tem planos para nós, que, de algum modo, somos importantes para o Universo. Somos, sim, especiais, mas não porque o cosmo tenha planos para nós, ou porque seja “certo” para a vida.
Não consigo encontrar a mensagem de que o Universo é “certo” para a vida nesse vasto oceano de mundos desolados. Se o cosmo tinha mesmo planos para nós e para a inteligência cósmica em geral, me parece que a execução desses planos andou mal.
... uma vez que fique claro quão rara é a Terra, quão rara é a vida complexa, quão precária e preciosa é a nossa existência num planeta flutuando em meio a um Universo hostil e indiferente, um número cada vez maior de pessoas abracem a causa pela sobrevivência. Talvez, um dia, nossa missão seja espalhá-la pelo Universo afora.