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quinta-feira, 14 de junho de 2012

O APEGO

Texto brilhante do professor e juiz Pablo Stolze:


O momento mais sublime da minha existência, sem dúvida, foi o nascimento das minhas duas filhinhas gêmeas. E, naquele 22 de novembro, algo me marcou profundamente. O esforço que todo ser humano faz, quando, abandonando a proteção do ventre materno, passa ter contato com o mundo exterior. Logo naquele primeiro instante, em que o cirurgião, afastando várias camadas de pele, invade o útero,... e retira, à força, aquela nova vida, a primeira reação experimentada é dolorosa, traduzindo-se em um choro agudo. Um choro forte e estridente. Necessário, aliás, pois, descobri, naquele mesmo dia, que o choro forte da criança é um bom sinal de saúde, segundo os médicos. Contudo, mais do que isso, é a primeira prova imposta pela vida. A primeira de muitas.

Por isso, naquele inesquecível dia, tomei consciência de que, ao longo da nossa jornada terrena, somos constantemente testados. Passamos por provações diárias. Provações que criam a oportunidade de um novo renascimento, de nos tornarmos amanhã melhores do que hoje. E, nesta árdua batalha, uma das mais difíceis missões é a vitória sobre o APEGO. Tenho medo desta palavra. O apego não se confunde com o amor. Ele é nocivo e perigoso. Ele se disfarça de amor.

O apego traduz uma profunda forma de aprisionamento. A prisão da própria alma. E se manifesta de diversas formas. Por exemplo. O APEGO AO OUTRO. Conheci alguém que viveu nesta masmorra, ao longo de um namoro, há muitos anos, em que, em vez da esperada paz que exala da rosa do verdadeiro amor, apenas nutria crises de ciúme, desassossego, e até mesmo, de falta de ar. E, quando perguntado sobre o motivo de manter aquele relacionamento, lamentava-se dizendo: “é que eu a amo”. Mentira. Era o apego mascarado de amor. Ele se enganava e enganava a outra pessoa.

Aliás, até mesmo quando quer conquistar alguém, não obtendo êxito na sua empreitada conquistadora, você já notou que, se deixar de adular, insistir, implorar, tornando-se mais reservado, a sua amada (ou amado) passa a notar você? Quantos namoros não surgiram assim... depois de um tempo implorando por um beijo, um simples “gelinho”, um afastamento breve, serve como o gatilho do relacionamento? E a razão é simples: não se conquista o amor apegando-se ao outro, pois isso é apego e o apego asfixia e sufoca. E não acaba por aqui, pois o mal tem muitas outras formas...

O APEGO AOS BENS MATERIAIS – pessoas que vivem exclusivamente em função do que ostentam. Uma vida vazia, maquiada por uma falsa alegria e nutrida por amigos de papel. Parasitas em torno do nada. Pobre materialistas. Esquecem a mais básica lei da física: tudo se transforma. Converte-se em energia. Até a matéria é energia. Por isso, a matéria, por ela mesma, nada é. O apego ao dinheiro é o apego ao nada. Ao dizer isso, não sou hipócrita e não posso negar a importância do conforto material. Mas, saber lidar com o dinheiro e com a matéria é uma arte sublime. Os que a desconhecem se tornam escravos do pó.

E o que dizer do APEGO ÀS IDEIAS?... Nunca esqueço o aluno que me mandou uma longa carta, afirmando que o seu sonho era ser Procurador da República. Belo sonho. Eu o incentivaria. Todavia, qual não foi a minha surpresa, quando, ao final da mensagem, ele peremptoriamente afirmava: “... e resolvi, professor, que acabarei o meu namoro, pois, assim, terei mais tempo para estudar”. Calma! O que é isso? – perguntei - Sua namorada lhe fez mal? O namoro lhe sufoca? “Não professor, eu até gosto dela – respondeu-me - é que eu prefiro a minha carreira ao meu namoro”. Lamentei profundamente aquela falsa prova de persistência. Lamentei profundamente perceber que o amor fora derrotado, em uma batalha que ele nunca travou. O amor jamais lutará contra o seu sonho. Muito pelo contrário. Dará sentido a ele. Senti, imensamente, que aquele aluno haja confundido a luta pelo ideal de ser Procurador com o apego doentio a uma ideia preconcebida. Não sei se ele foi aprovado. Só espero, em Deus, que ele haja vencido as provas, na árdua luta do concurso, mas, principalmente, que não tenha perdido a sua alma na implacável batalha da vida. Pois o apego somente conduz às trevas. Um abraço! Paz e luz, meus amigos do coração! Pablito

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