Por indicação de uma amiga crente (no sentido de "quem acredita"), li esse livro.
Collins é
biólogo e foi o diretor da fase final do projeto genoma. Escreveu esse livro na
tentativa de justificar sua fé num Deus interventor/criador e a ciência na qual
também acredita.
Aprecio a
tentativa de um cientista de harmonizar a sua fé religiosa com a racionalidade
de seu trabalho. Mas, não acho que sua tentativa foi bem sucedida. Há partes do
livro que me causam admiração, pela sinceridade com que Collins tratou o
triunfo da ciência em relação à religião, mas outras partes não me convencem da
harmonia entre o deus bíblico e a ciência...
Para quem
interessar, segue meu estudo sobre o livro:
Preciso cumprimentar o autor quando levanta a questão do “deus das
lacunas” no livro. Ele explica que os crentes que enfiam deus em todas as
lacunas científicas correm o risco sério de ver sua fé rapidamente deteriorada,
com a descoberta cientifica para a tal lacuna. Ele sabiamente diz que a origem
da vida e suas lacunas (que aos poucos vão sendo cobertas pela ciência) “não é
o lugar para uma pessoa inteligente apostar sua fé” (palmas!)
Como biólogo, ele sabiamente descarta o período cambriano (explosão de
diversidade biológica na terra) como um período de interferência divina, pois a
ciência e o raciocínio mostram que foi pura evolução. Ele ainda diz que
“existem boas evidências das formas de transição de répteis para aves e de
répteis para mamíferos”.
É lindo ler o relato dele da busca pelo gene causador da fibrose cística
e depois a comemoração em lágrimas quando finalmente conseguiram encontrá-lo
(renovando esperanças de uma cura). É digno de apreciação também, a sua
honestidade quando diz que ficou em duvida ao ser convidado para assumir o
projeto genoma e não “ouviu” a voz de deus quando orou por uma resposta, mas
sentiu uma paz ao tomar sua decisão em aceitar. Ele não distorceu fatos e
verdades a favor de sua crença.
Aplaudo também a distinção que ele faz sobre a palavra “teoria” da
evolução que muitos crentes insistem em definir como “hipótese”, mas na verdade
é um conjunto de princípios fundamentais que nada tem de incerto, mas
totalmente certo, ou seja, a evolução não é uma “possibilidade”, mas uma
certeza. Ao menos isso ele não nega.
E ainda, louvo sua tentativa de fazer os crentes menos científicos, a
pararem de negar a evolução, como uma tentativa inútil de proteger a sua
crença.
Ele diz a respeito do criacionismo bíblico literal que é “quase
incompreensível que essa visão tenha atingido um respaldo tão abrangente, em
especial num país como os Estados Unidos (45% acreditam no criacionismo da
biblia) que afirmam ser tão intelectualmente avançados”.
Admiro sua honestidade ao descartar o maior trunfo dos criacionistas, o
design inteligente e a teoria da complexidade irredutível como teorias
plausíveis, pois realmente não passam de tentativas desesperadas de se apegar a
lacunas no conhecimento cientifico (que vão sendo preenchidas a cada ano).
Mas, sou obrigada a discordar do autor quando diz que a evolução não
contradiz a fé no deus da bíblia... é a mesma prática constante dos crentes que
preferem ignorar o deus bélico do velho testamento e se concentrar somente no
deus, por vezes, amoroso do novo testamento... dizer que Genesis é alegórico e
o resto da bíblia não é, simplesmente joga pra debaixo do tapete a parte que
foi desmentida e foca naquela que ainda não foi ou então nunca será, porque
depende exclusivamente da mente predisposta a acreditar.
Collins já
começa dizendo que “A ciência é incapaz de responder qual o sentido da
existência humana”... o fato é que ela responde, mas não é a resposta que
queremos ouvir...
Ele diz que “Na
posição de um jovem que crescia em um mundo repleto de tentações era
confortável não ter que responder a nenhuma autoridade espiritual...” (só posso
concluir que o medo trouxe a sua fé de volta... )
O autor
sustenta que em todos os povos, desde primitivos, há uma lei moral intrínseca
do homem que obriga gentileza com os mais fracos, dar esmola, ser honesto...
que a filosofia pós moderna está errada quando diz que não há certo e errado
absolutos e que decisões éticas são relativas.
(a base da crença de Collins está no final do texto, mas aqui já indica
um princípio adotado por ele para crer em deus – a lei moral intrínseca do
homem seria indício de Sua existência)
O autor argumenta
que o sentimento de deslumbramento do ser humano ao ouvir uma bela sinfonia ou
ler um poema são manifestações divinas e, ainda, que o desejo de que exista um
deus são provas de que ele realmente existe. O próprio autor cita a explicação de
Freud para isso, a influência paternal que faz com que a criança, mesmo depois
de adulta, continue desejando uma figura paterna com quem possa contar. Mas,
ele diz que esse argumento é falho porque a criança conforme cresce,
experimenta sentimentos de libertação dos pais, o que refletiria num desejo de
que deus não existisse. (argumento pobre, porque a revolta da adolescência
contra os “desmandos” dos pais não inibe completamente a necessidade genética
de proteção paterna, que persiste no DNA – sem a existência dos pais, todo ser
humano e animais que, da mesma forma, dependem dos pais para sobreviver nos primeiros
anos de vida, não estaria vivo - sentimento este que nunca poderá ser eliminado
pela revolta adolescente contra as ordens paternas)
Então ele diz
que todo desejo só existe porque pode ser realizado, então o desejo de que deus
exista só pode corresponder a uma realização. (argumento, no mínimo, infantil)
E quanto às
barbaridades praticadas pela religião, primeiro ele “argumenta” dizendo que
também foram praticadas coisas boas (a velha prática de fechar os olhos à parte
ruim e só levar em consideração a parte boa, o que obviamente desestrutura
qualquer sistema de crença) e depois diz que a religião é falha porque é feita
por homens, mas o que se discute, quando se fala nas atrocidades religiosas não
são as atitudes dos homens, mas os mandamentos do próprio “deus” contidos na
bíblia... em especial no velho testamento que mostra um deus sempre ávido por
guerras entre povos e mandando seus súditos exterminarem crianças para que
ninguém do povo que “adora outro deus” sobreviva. (atitudes obviamente humanas
e escritas como se viessem de um suposto deus que ainda insistem em defender
como real)
Sobre a
contradição entre um deus bondoso e as pessoas que sofrem pedindo por um milagre
que nunca vem, o autor diz que “frequentes intervenções milagrosas seriam
caóticas no plano físico”, então devo supor que deus realmente tem seus
preferidos e faz os milagres (dentro da cota ‘não caótica’) só para os
escolhidos... que provavelmente alguns crentes diriam que são os que o adoram
sem questionar... trazendo à baila mais um sentimento absolutamente humano
desse deus vaidoso que não admite ser questionado...rs
Nesse ponto que
admiro a tentativa dos espíritas de explicar o sofrimento humano à luz da
existência de deus... seria parte de um plano divino grandioso para “esculpir”
nossas almas através da dor, para que possamos nos tornar seres melhores no
futuro (após várias reencarnações de dor). Pelo menos a ideia não se torna
absurda a ponto de defender milagres aleatórios ou para “preferidos”... ao
menos, nesse contexto, deus estaria agindo de forma coerente e conduzindo um
plano de aprimoramento da raça humana...
O autor cita a famosa frase de Stephen Hawking sobre a descoberta de uma
eventual teoria final que nos permitiria “entender a mente de deus”, mas todos
sabem que quando vários cientistas se referiram a “deus” dessa forma, estavam
se referindo a uma eventual constância universal e não a um ser bíblico...
sobre a teoria final, indico o livro de Marcelo Gleiser “Criação Imperfeita”
que elucida melhor essa questão que as vezes confunde a ciência com a teologia.
O autor fala que “o big bang grita por uma explicação divina” e ele “não
consegue ver como a natureza pôde ter-se criado”, mas logo depois, ele mesmo
cita como os átomos se juntaram de forma natural até formarem estrelas,
planetas e finalmente o homem, então porque antes disso, não poderia ter sido
algo natural também? Só porque ele não entende ainda como aconteceu, não
significa que não foi natural!
Quanto às questões teológicas extremamente relevantes que surgem quando
pensamos na existência de vida extraterrestre (se deus criou outras criaturas,
porque seu único filho salvou só a nós dos pecados? As outras criaturas são
todas santas?? Se deus as fez santas, para não terem que se preocupar com o
pecado vindo do tal “livre arbítrio”, porque não nos fez assim Tb? Etc, etc,
etc), o autor faz como todos os crentes fazem, simplesmente passa pelo assunto
rapidamente, dizendo que a probabilidade de não encontrarmos vida
extraterrestre é grande.
Sobre o principio antrópico (o universo existe da maneira “certa” para
que possamos existir) já coloquei um trecho do livro do Gleiser que explica que
não há universo certo, apenas observadores tendenciosos (nós). O exemplo do
peixe inteligente do Gleiser explica muito. (ver post - NÃO EXISTE UNIVERSO
CERTO)
O próprio autor, no final do tópico, diz que na verdade quem quer
acreditar em deus escolhe o principio antrópico, mas a sua probabilidade está
em pé de igualdade com a teoria dos multiversos, que também explica a suposta
predeterminação do universo para a existência a vida, de forma totalmente
cientifica e natural.
É desconcertante ver o quanto um cientista cuja predisposição emocional
o obriga a acreditar em deus, tenta justificar sua crença em “séculos de
história e altruísmo”. Não é porque as pessoas têm acreditado numa mentira há
séculos que ela vira verdade. E sobre o altruísmo, ele não leva necessariamente
a deus, como diversos autores já discutiram.
Ele escolhe acreditar num tipo de ideia que poderia ser compatível com a
existência de um deus interventor, dizendo que o universo surgiu do nada (o que
não é verdade, segundo a teoria dos multiversos ou mesmo segundo recentes
descobertas do bóson de higgs), que o universo está ajustado para a criação da
vida (o que também é refutado brilhantemente por Marcelo Gleiser e pela teoria
dos multiversos) e que a evolução seria a maneira que deus escolheu de criar
tudo (???)
Concordo que se deus sabe de tudo, embora o processo evolutivo seja
aleatório, ele poderia prever todas as interferências para que no final o
resultado fosse como desejado, MAS, se sua intenção era criar o homem, não
seria mais lógico ter criado logo de uma vez?? Ao invés de fazer milhões de cálculos
(se existe esse deus, certamente é matemático!!! RS) para impedir que eventos
aleatórios não desejados interferissem no resultado final?
Infelizmente para o autor, essa alternativa não é a mais “consistente em
termos científicos”, basta ler sobre as recentes descobertas científicas e as
teorias que citei acima.
A verdade é que a ciência aponta para o abandono da noção de deus
criador e/ou interventor... se existe algum ser infinitamente superior a nós,
ele existe em função de processos naturais de evolução, conforme todas as
evidências apontam desde o surgimento o universo até o surgimento do próprio
homem. É assim que a natureza funciona e é assim que a eventual existência de
um ser superior vai ser possível. Se ele vai intervir na Terra em algum momento
ou se interviu no passado (supondo que um ser infinitamente evoluído tenha
encontrado formas de viajar no tempo e espaço), certamente não foi para nos
aprisionar em conceitos de adoração irracional, mas para tentar impulsionar a
humanidade para a mesma evolução que, quem sabe, um dia será também comprovada
fora dos padrões físicos.
No final do livro, o autor traz um exemplo de seu suposto amor ágape por
doentes na África, que o levou a fazer uma viagem pra salvar vidas (mas, não
percebe que no mesmo trecho cita seu verdadeiro impulso egoísta de ser o
“salvador branco” que o teria levado até lá).
Não quero desmerecer trabalhos como o que ele fez com os doentes, mas
infelizmente isso não justifica a existência de um deus interventor, que teria
colocado o amor no nosso coração só para que soubéssemos de sua existência... o
amor é um sentimento que geralmente espera algo em troca, mesmo que seja a satisfação
pessoal de ser apreciado por seu ato.
O autor ainda cita Lewis, mais uma vez, para dizer que Jesus não foi
apenas um grande educador, mas o filho de deus... infelizmente, a citação se
esvai por si só... não explica nada. Lewis, na comum fúria cristã, diz que
“você pode cuspir nele (Jesus) e matá-lo como se fosse um demônio, ou pode cair
a seus pés e chamá-lo de senhor e deus”... não existe a alternativa do meio?
Por que ele não poderia ser simplesmente um homem à frente do seu tempo, como
tantos outros na história? Simplesmente porque não se quer acreditar nisso.
Acho engraçado
como ele defende o livre arbítrio teoricamente dado por deus... Ele diz
“imagine esse mundo se a oportunidade de escolher livremente uma crença tivesse
sido removida em virtude da certeza das evidências. Que desinteressantes seria,
não?”
Ahhh, por
favor! Se houvesse apenas uma crença baseada em evidências, não existiriam as
guerras religiosas, responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas na
historia da humanidade. Se todos pensassem da mesma forma, BASEADOS EM
EVIDENCIAS (o que seria ainda melhor, porque garantiria ao menos que esse
pensamento estaria correto), não haveria discórdia! E um cientista dizendo que
isso seria desinteressante é um argumento triste.
Acho engraçado
dizer que deus nos deu o livre arbítrio para acreditarmos no que quisermos, mas
se não acreditarmos nele, então seremos punidos... que livre arbítrio é esse??
E se deus é tão superior, sabe o quão “involuídos” espiritualmente nós somos e,
só por isso, olharia para nós com compreensão se decidíssemos não acreditar
nele e não com sentimento de punição (mais uma vez, essencialmente humano).
Por todos esses
motivos, não acredito no deus, essencialmente humano, da bíblia... as histórias
lá contadas são fruto da imaginação ou da fraude de homens que precisavam de um
argumento de poder para liderar (especialmente no velho testamento - não se pode simplesmente ignorar aquele deus
que agia como humano e dizer que no novo testamento, ele se redimiu e começou a
pregar a bondade para com todos, além do povo dele)... se a bíblia fala de um
deus só, então é nesse único deus, essencialmente humano, em quem não acredito.
O que os
cristão não entendem é que não acreditar no deus da bíblia, não me impede de
acreditar no sobrenatural... eu posso acreditar na existência de um ser
superior que não seja o deus da bíblia (24horas observando se alguém deixa de
acreditar nele, para, então, puní-lo de alguma forma), mas um ser superior ou,
em termos evolutivos e mais prováveis, VÁRIOS seres superiores, que
eventualmente podem vir a se preocupar conosco, mas não no intuito bíblico,
essencialmente humano, de angariar seguidores para satisfazer uma vaidade,
essencialmente humana. Seria um ser superior com uma genuína preocupação com um
quase semelhante (em termos evolutivos) que eventualmente teria interesse em
nos ajudar a passar por essa fase tão primitiva em que nos encontramos (que
esse deus já superou há muito tempo)... pra mim esse seria o deus mais lógico
para qualquer cientista... uma criatura tão evoluída que para nós, pode ser
encarada como “deus”... mas, que está de acordo com a ciência da evolução e com
as observações empíricas que fazemos.
Porque não pode haver existência de algum tipo de vida após a morte, mas
que continue evoluindo nos mesmos padrões que observamos no mundo físico? Se o
bóson de higgs, descoberto recentemente, apresenta uma variante da teoria do
surgimento do universo, indicando que ainda antes do big bang, houve uma outra
fase de interação da matéria com o imaterial, porque o oposto não pode
acontecer quando a nossa matéria morre e talvez ainda continue existindo algum
tipo de imatéria que nos caracterize? E que vai continuar seu caminho evolutivo
ou não, da mesma forma que a matéria... sem depender da interferência de um
poder criador, mas de combinações de circunstâncias e eventos físicos (lembrando
que a física teórica também se aplica à “imatéria”). Einstein já dizia que
matéria e energia (imatéria) são intercambiáveis.. o que impede de descobrirmos
que a matéria vira energia consciente após a morte?
Acho engraçado que quando se fala de deus e religião, a fé não precisa
ser provada e não pode ser questionada, mas quando a situação se inverte, os
primeiros a exigirem provas são os “crentes”... o autor diz que os milagres são
raros, mas para quem acredita num deus interventor, eles existem e para quem
não acredita, eles podem ser explicados pelas leis da natureza e então o autor
lança a pérola “pode, porém, esse ponto de vista ser totalmente confirmado?”,
ou seja, se as leis da natureza não explicam tudo, só pode ser intervenção
divina...
Isso só reforça a minha ideia de que a crença num deus interventor (o
deus da bíblia) é puramente opcional... se o individuo apresenta uma forte
necessidade emocional de ter um pai protetor sempre presente (Freud já explicou
isso), então ele vai distorcer todos os fatores a favor dessa crença... mas,
isso é mais emocional do que racional e não explica nada... (eu sei que dirão,
mais uma vez, que a fé não precisa ser explicada, mas as contradições precisam
e essa historia do deus da bíblia tem muitas contradições que não se sustentam
a um simples olhar racional... e como eu digo, a lógica não pode ser abandonada
a favor da fé, porque os próprios princípios da fé devem ser coerentes entre
si, senão vira coisa de louco!)
Mesmo que a ideia que você vai defender seja baseada em fé, os
princípios dessa fé não podem se contradizer para ter sentido... a questão é
justamente que a lógica não pode ser afastada nem dos que alegam que a fé não
precisa de provas... mesmo uma premissa que se afirme por si só (independente
de provas) precisa seguir uma coerência lógica com o raciocínio que vier depois
(seja qual for) e isso que muitos crentes não entendem. (embora o autor, em
muitos trechos do livro tenha buscado essa coerência, rejeitando o criacionismo
bíblico literal e outras teorias absurdas que tentam explicar a fé em deus
interventor)
O autor ataca o ateísmo porque diz ser “uma posição logicamente
indefensável”(!?), mas quase defende o agnosticismo, por ser “compatível com a
teoria da evolução e muitos biólogos se colocariam nesse campo”... se o
agnosticismo é compatível com a teoria da evolução, porque o cristianismo
também seria? O problema é que ele se força a tomar uma posição frente os dados
que temos hoje. (o que pode levar a uma conclusão FORÇADA por medo de ficar em
cima do muro e vir a ser punido...) preciso discordar do seu comentário quando
diz que “é raro ver um agnóstico que se empenhou em avaliar todas as evidências
favoráveis e contrárias à existência de deus”...baseado em que ele diz isso???
Essa afirmação circula no campo daquelas que dizem “todo crente é desprovido de
lógica”... o que é uma generalização perigosa.
Não acho justo
encarar o agnosticismo como covardia. Se uma pessoa não considera suficientes nenhum
dos argumentos apresentados, por que deve ser obrigada a escolher algum, ao
invés de esperar pelo surgimento de outro melhor? A ciência e a própria
filosofia humana progridem a cada dia... quem garante que no futuro não
existirá uma explicação melhor e mais aceitável pra mim, do que as que existem
hoje? Chamar agnosticismo de covardia é querer incutir na mente do outro as
próprias convicções, típico da natureza do ser humano, mas inválido como
argumento.
Enfim, a tentativa do Collins de harmonizar seu trabalho científico (de
grande valor) à sua crença religiosa é falha, pois os maiores argumentos usados
(lei moral do homem, universo vindo do nada e universo “certo” para o homem) já
foram longamente refutados por vários pensadores. A verdade é que a crença no
deus da bíblia continua sendo uma escolha, que também não resiste a argumentos
lógicos e comumente apela para a “fé cega”, que não precisa de provas. O que os
crentes não entendem é que todo sistema de crenças (seja ele baseado em fé ou
não) deve ter coerência em suas premissas, o que não acontece com a fé no deus
da bíblia... não é uma questão de impor a razão à fé, mas de pretender qualquer
raciocínio lógico sobre as próprias premissas daquela fé. Os crentes têm
dificuldade de entender isso, mas a verdade é que suas premissas são
contraditórias por si mesmas... independente da fé ser provada ou não. Gostaria
de ver algum crente realmente entendendo esse argumento para que, então,
qualquer tentativa de debate pudesse se realizar.